segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bambu poderia servir de salvação para o planeta


Bambu é uma planta antiga e versátil, que tem papel em mitos de criação mas também surge plantada em vasos humildes nos terraços de Manhattan.

A planta existe em variedades semelhantes a moitas, mais comportadas, e em variedades selvagens que se propagam como mato, por rizomas, as quais servem muito bem em uma área selvagem, mas não são uma boa idéia quando plantadas para delimitar um jardim ou quintal, porque podem invadir o terreno vizinho.

Mas é exatamente esse vigor expansivo que está levando os ambientalistas a tratar o bambu como a nova planta essencial para a salvação do planeta.

O bambu trabalha muito bem na retenção de dióxido de carbono e produção de oxigênio.

É uma planta resistente que produz seus próprios compostos antibacterianos e pode prosperar sem pesticidas.

E suas fibras porosas podem ser usadas na produção de um tecido poroso e suave como a seda.

De fato, os fabricantes de tecidos do Japão e da China estão envolvidos em tamanha corrida por bambu que, em sua edição de maio, a revista National Geographic previu que "esse tecido recentemente desenvolvimento pode um dia competir com o rei Algodão" (nos mercados chinês e japonês o bambu é explorado em plantações comerciais).

No entanto, enquanto a demanda mundial aumenta cada vez mais, a oferta de bambu escasseia.

Planta que em geral floresce apenas uma vez a cada 60 ou 120 anos e depois morre, sua propagação por meio de sementes é difícil.

E cultivar bambu por enxertos de plantas existentes é notoriamente complicado.

Assim, quando Jackie Heinricher e Randy Burr descobriram como produzir bambu em tubos de ensaio - vendendo as primeiras duas mil plantas a centros locais de jardinagem no vale de Skagit, no Estado de Washington - o efeito no mundo da horticultura foi intenso.

"É engraçado, porque o bambu tem essa reputação de conquistador do universo, mas é uma das plantas mais difíceis de gerar", disse a bióloga Heinricher em uma tarde de começo de junho, no centro de produção de sua empresa, a Boo-Shoot Gardens, em Mount Vernon, cidade localizada cerca de duas horas ao norte de Seattle.

Heinricher, para quem o bambu foi uma constante na infância - seu pai tinha bambus dourados plantados em torno da casa da família em Olympia, Washington - começou seu esforço de propagação da planta no final dos anos 90, em uma pequena estufa instalada em sua casa, na vizinha Anacortes.

"Interessei-me pelos bambus não invasivos desde o começo, sabendo que são muito belos mas impossíveis de produzir", ela afirmou.

Heinricher logo descobriu até que ponto esse processo era difícil, ao retirar mudas de muitas de suas plantas raras e perceber que grande proporção das amostras terminava morta.

Por isso, persuadir Burr, proprietário da B&B Laboratories, uma empresa local, a ajudá-la.

Burr e sua empresa estão no mercado há quase 30 anos, com um laboratório de cultura de tecidos com 1,2 mil metros quadrados e 3,5 mil metros quadrados de estufas.

A B&B produz plantas as mais variadas, de rododendros a couves-flor, e descobriu como produzir mudas de samambaias de Boston em estufa, em 1973, para um viveiro de plantas em Oxnard, Califórnia, além de ter desenvolvido métodos para produzir milhares de outras plantas.

"O bambu foi o mais difícil", disse Burr, relembrando os oito anos de experiências com as mais diferentes combinações de variáveis, a fim de conseguir a regeneração de bambu em um tubo de ensaio.

Quando pergunto que método enfim funcionou, Burr me olha, risonho, e diz: "Teríamos de eliminar você se contássemos".

Os diferentes tipos de bambu variam de versões frágeis como a Fargesiae murieliae, dotada de folhagem verde ervilha que chora como a dos salgueiros, a plantas verdadeiramente heróicas em sua força, como a Phyllostachys edulis, cujas robustas hastes verde-oliva podem crescer 23 m em uma única temporada.

As fibras de bambu são recurso renovável para tecidos, comida e papel.

E plantações experimentais financiadas pelo Departamento da Agricultura no Alabama, entre 1933 e 1965, demonstraram a promessa do bambu para o papel e outros derivados de madeira.

O bambu gera 35 t de madeira por hectare, ante 20 para o pinho, uma das maiores fontes de madeira para uso comercial nos Estados Unidos.

Muitas dessas plantas podem agora ser produzidas em vasta escala, o que é revolucionário para o setor de jardinagem.

Países como a Bélgica exploraram a cultura de tecidos de bambu, mas a Boo-Shoots parece estar liderando o mercado mundial.

"Acredito que Jackie seja a primeira cientista norte-americana a ter descoberto como produzir bambu a partir de tecidos em cultura", disse Nicholas Staddon, diretor de introdução de plantas do Monrovia, um viveiro de plantas que opera no atacado em cinco locais dos Estados Unidos.

"O método dela fez diferença significativa para a maneira pela qual levamos plantas ao mercado".

Em um passeio pelas fileiras de bambus plantados por sua companhia, Heinricher me disse que "sempre me senti fascinada pelo bambu, especialmente as variedades conhecidas como madeira, com suas hastes gigantescas, douradas, negras ou listradas, e alturas de seis a 35 m.

Mas eu tinha medo de cultivá-las, pensando naquelas histórias assustadoras sobre bambus que invadem o gramado dos vizinhos".

Mas Heinricher agora está determinada a ensinar as pessoas a escolher as plantas certas, e a manter sob controle até mesmo as variedade de mais vigoroso crescimento.

(O panfleto que ela escreveu, "Discovering Bamboo", disponível em booshootgardens.com, descreve como cultivar e manter bambus.)


Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
Fonte de pesquisa: The New York Times

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